terça-feira, 29 de setembro de 2015

Rio é história - A praça Mauá

Um dia de ressaca de Rock in Rio, um dia de sol com praias lotadas, um dia de Flamengo e Vasco no Maracanã, com todos esses atrativos, transpor as empoeiradas ruas em obras se tornou um desafio e tudo isso para chegar à inacabada Praça Mauá, acompanhei todas as fases de uma mega obra urbanística que só descortinou o que sempre existiu, história e o mar.

Sempre frequentei a degradada região portuária do Rio e ela tinha um ponto alto (também degradada) a praça Mauá. Trabalhei muito tempo na região, além do garboso RB1 e restaurantes ótimos perdidos pelas vielas, era um lugar de sórdidas boates para marinheiros (ora que região portuária não as tem?) mas basicamente era uma lugar sujo, escuro, perigoso e cheio de história. Sobrou um pier arejado, bem cuidado e policiado com um museu de arte, infra estrutura e um comércio que ainda tenta se organizar para atender a demanda turística em tempos de crise.

Apesar de futuramente continuar sendo o ponto de desembarque de turistas, de ter um moderníssimo sistema de transporte, amplos espaços e um museu dedicado ao futuro, a essência da Praça Mauá continua presa ao passado e há de ficar cego quem não enxergue isso. Foi lá que na antiga praia da Conceição tantos negros chegavam nos abarrotados navios negreiros, os que sobreviviam da viagem eram vendidos no mercado logo ali no cais do Valongo, os que morriam na travessia eram enterrados num cemitério logo ali perto na Igreja de São Francisco da Prainha, perto inclusive da casa dos nobres que viviam na aprazível Gamboa, com suas praias calmas que se encostavam num morro cercado de árvores frondosas. Entre esses nobres, o patriarca da independência José Bonifácio que vivia num lindo palacete que hoje abriga um Centro Cultural esquecido. Outro morador importante foi o Eike Batista de sua época, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, muito bem retratado numa estátua no centro da praça que ganhou o seu nome, a estátua é pequena diante a imensa praça, mas ressalta aos olhos a coluna onde está apoiada, a cara de seu criador Rodolfo Bernardeli, ali perto do cais do Valongo os belíssimos jardins suspensos ficaram esquecidos por décadas, é  um ótimo passeio subir por lá para chegar no centro de geografia do exército que fica no Morro da Conceição, ali se travou uma guerra religiosa  contra os beneditinos que ocupavam o morro em frente no Mosteiro de São Bento. A Pedra do Sal é um capítulo a a parte na cultura nacional com fortes indícios de que ali surgiu o samba, mas depois que os soldados que voltavam da Guerra de Canudos foram ocupando a região e criando a primeira favela do mundo ao lado do primeiro túnel do Rio, a área de porto foi ocupada por armazéns e a região viveu uma forte decadência.
Uma forte tentativa de melhorar o local foi a criação do maior arranha céu do mundo em sua época, o prédio a Noite teve esse status até a inauguração do Empire States, depois seguiu em prol da integração nacional transmitindo dali as ondas de rádio que viriam a tornar aquele tempo conhecido como a Era do Rádio. O prédio pomposo foi do mesmo arquiteto do Copacabana Palace (Joseph Gire).
Em qualquer lugar do mundo o trecho aberto entre o Santo Cristo e a Glória seria por si só a única atração turística que atrairia milhões de pessoas com suas máquinas fotográficas ... todos ávidos por história (que no caso dessa região se mistura entre o período colonial, a inconfidência mineiro a, o comércio escravista, o samba, a chegada da corte portuguesa, o império, os primeiros anos da república, a era Vargas e que descortina, como sua paisagem, num futuro promissor.. cheio de gente passando dando vida a mais um lugar esquecido do Rio de Janeiro.