quarta-feira, 19 de junho de 2013

Pajelança

Encontro Flávio Máximo pelos corredores do trabalho, e depois de tanto tempo, ao longe são pronunciadas palavras de carinho que só os amigos compreendem (fala FDP!), por fim escuto um "partiu pajelança!", soou diferente de um "partiu BS" do Vanderlei, ou uma convocação para o Russão de Anderson Rigas, nada contra um banho de sangue ou um almoço a caminhada, mas aquelas palavras nos remetiam a um passado, um passado que voltava agora em minha cabeça, um filme que tinha um véu obscurecendo-o parece límpido. A princípio abri um sorriso, mas aos poucos fui me dando conta dos vários compromissos das vida que fazem tomar outros rumos nos almoços, é não dava, tinha outros planos para o dia de hoje. 
O Pajé é um restaurante de comida honesta e popular que eu tanto gosto no centro do Rio, as memórias desse lugar, por vezes me levam as lágrimas, por lembrar de um passado tão glorioso de tempos e pessoas que passaram por nossa vida e que esquentaram a barriga no balcão do Pajé. A hora do almoço chega eu eu preso a um conference call (como no passado, como sempre !). Tudo termina e uma coincidência me leva a consertar meu relógio lá pelos lados da Presidente Vargas, altura do Banco Central. Ali revejo o meu passado, o lugar onde assinei o contrato de compra do primeiro imóvel, o primeiro emprego, anos virando noites nos suportes. Lembro de Eugênio Ronaldo Alves seu sorriso, andando apressado em direção ao Pajé e colocando a camisa (e a barriga!) pra dentro da calça, pequenas lágrimas começam a rolar mas logo viram um sorriso, depois de 10 anos, o Pajé continua sendo um restaurante onde você é recebido com abraços, sorrisos, um lugar onde o seu prato preferido é de conhecimento do garçom e lhe é oferecido sem que esteja no cardápio, é onde sou tratado como um rei, ou simplesmente como um amigo. 
Chego, passo direto pelo "bunda de fora" do térreo, o dia é de rasgar planos, reencontrar o passado, é um dia especial, como tantos outros naquele salão do segundo andar, o cheiro de mofo sumiu, a foto do Pajé também, no lugar pinturas e cartazes de filme antigos. As pessoas na mesa ao lado fazem HUMMM ao comer, por diversas vezes escuto "delicioso" no salão. Sim, o tempo não levou tudo... ainda não! O garçom larga tudo para me servir, sorriso estampado no rosto, perguntou sobre a vida e a namorada (levei algumas lá !), reclamei pelo Filet a Forrestier e ele retrucou que fazia pra mim. Ataquei de picanha suína com farofa brasileira, essa não chega nem aos pés da farofa do mítico Choperia do Papai (outra história, outro texto..), contudo nada a reclamar, nem a falta do creme para acompanhar a banana flambada (sempre foi o grand finale para as namoradas) e o café. A tempos a leiteria que fornecia tal creme fechou suas portas. Preço para um almoço pra um que serve dois ... R$ 40,00
Não sei se foi efeito da bebida que flambou as bananas, mas depois de um almoço nesse estilo e cheio de sabores especiais, até vi poesia no bailar dos papéis que caiam das janelas da Avenida Presidente Vargas, era como se Eugênio Ronaldo Alves saísse das nuvens onde mora, para brincar com o mundo e com o passado.

Restaurante Pajé - Rua Teófilo Otoni, 190