segunda-feira, 13 de maio de 2013

Viajar para marcar território fotografar para esquecer do tempo.

Uma das coisas mais marcantes dos tempos modernos é que o poder aquisitivo das classes médias e altas tem aumentado de forma consistente, a reboque disso tudo aumenta-se o poder aquisitivo e a terrível ambição por status, viajar é bom e provavelmente se você veio a este site é porque gosta de fazer isso, sim tem gente que gosta, mas há que se respeitar aqueles que não gostam de deixar o seu lar. (meu pai costumava dizer que Parati era um lugar horrível, cheia de prédios velhos, é a opinião dele!). Aqueles que autenticamente são caseiros e não se envolvem na moda de dizer que se vive para viajar podem viajar num livro, ou não gostar de aventura ou sei lá, se sentem felizes e realizados em casa. Existem viagens legais, pessoas que sabem o que conhecer, existem as outras que marcam ponto num lugar, só pra dizer que já foi, só pelo status de se dizer viajante. Existem os viajantes de aeroporto ou o de hotéis 5 estrelas, existe espaço para todos.

Mas para mim, viajar é viver toda a experiência, curtir cada momento pensando que não esta em sua casa. Desde o momento em que se decide pela viagem, até a última foto arrumada no 
álbum. Opa, não tem mais álbum de foto? Ah mas com certeza você arruma as fotos que tirou, revê momentos marcantes dos lugares onde esteve ... não ? Hum estranho, porque tirou tantas fotos então ? Não vê as fotos do casamento nem a filmagem do nascimento dos filhos e dos exames de pré-natal?

Isso porque ocorre um outro fenômeno com o advento da fotografia digital, que é o imediatismo da foto,vivenciar, por meio da foto, a experiência do presente, ainda no presente. A nova curtição da foto é ser postada numa rede social para o imediato comentário dos amigos. 

Porque tanta gente se acotovela para tirar uma foto da conhecidíssima Mona Lisa no Louvre. Toda a foto tirada naquele tumulto fica mal tirada e é uma foto completamente desnecessária pois você a encontra em qualquer lugar, mas aquela foto marca um território para você poder dizer ... eu estive em Paris, eu vi um quadro pequenininho, feio, mas intrigante e famoso, não sei nada dele mas estive lá. 

Clicar uma foto passou a ser compulsão, tem criança em teatro infantil mais preocupada em tirar uma foto que nunca vai ver do que em vivenciar a história que é contada, a compulsão virou falta de respeito, as vezes cansa você não poder tocar no copo para beber porque a foto do mesmo tem que ir imediatamente para o Instagram

Existe muito narcisismo barato nessa tônica, são milhares de fotógrafos amadores que ao invés de pensar em luz, ângulos, tiram uma foto com boa sorte e bom gosto e que aí pensam que são tão bons quantos os profissionais que escrevem uma história com a luz e que criam obras de arte com ângulos imperfeitos. Existem aqueles que querem ser parte da paisagem, veja bem nada de errado e crítico nessa nova forma de se viver, estamos todos virando meio japoneses que nas suas férias viajam o mundo fotografando tudo e todos, para vivenciar o momento depois quando for ver a foto. O meu maior questionamento é que dificilmente vejo as pessoas apreciando suas milhares de fotos e revivendo aquele momento, que se passou

 O fenômeno de quantidade de registros também é algo novo e passível de crítica pois a quantidade excessiva de imagens banaliza o cenário e anula qualquer coisa na nossa memória, quanto mais fotos, menos sentidos elas fazem. É fácil perceber isso quando puxamos da memória aquele momento do passado em que registramos numa máquina de filme uma determinada coisa, lembrou ? Sim né ! Agora tente lembra de uma foto específica que você tirou na semana passada com o seu celular ... esqueceu né? Ao passo que se fotografava no passado para guardar uma lembrança, hoje se fotografa para se habilitar um esquecimento.

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