sexta-feira, 10 de maio de 2013

Rio é história - das invasões francesas aos governos militares o Brasil passou por aqui - Parte 3

Seguindo nosso passeio pelos cantos históricos do Rio, o caminhar pelo centro do Rio é cheio de surpresas, inclusive para os milhões de cariocas que transitam todo o dia pela região ...
 
Cinelândia - praça que tem seu nome associado aos luxuosos cinemas de outrora (Odeon, Cineac Trianon, Parisiense, Império, Pathé, Capitólio, Rex, Rivoli, Vitória, Palácio, Metro e Plaza), possivelmente é um exemplar único no mundo de uma única praça com tantos atrativos culturais, em volta, fora os cinemas, que atualmente são poucos, e que deram o nome ao lugar. Um empresário espanhol, dono de cassinos e boates queria criar ali, na década de 30, uma especie de Time Square tropical, o empresário Francisco Serrador dá nome a um dos mais belos prédios da praça, além desse prédio existia ali, o Palácio Monroe, em estilo eclético e concebido para a Feira Universal de Saint Louis e era feito numa estrutura de ferro que permitia que fosse desmontado para posterior montagem no Brasil, isso foi feito, em 1906 e a premiadíssima obra arquitetônica foi remontada de frente pro mar no final da Cinelêndia. Mesmo sendo modular, na década de 70 por conta da passagem do metro, o palácio veio abaixo numa briga política que envolveu o governo militar querendo abrir visão para o monumento dos mortos da segunda guerra e literalmente, demolir o antigo senado.

No meio da praça existe um monumento de 1910, dedicado a Marechal Floriano Peixoto (o nome original da praça), fundida em Paris e retrata momentos importantes da nossa história: 1500, 1822, 1888, 1889 e sugerem o ideal positivista, isso fez a praça se tornar um foco do Ecletismo no Brasil. Além da praça em si temos:


Museu Nacional de Belas Artes - construído em 1908 para abrigar a renomada Escola de Artes, em 1934 virou museu, tem um acervo belíssimo que merece a visita. O prédio seguia as linhas do Louvre, porém houve uma intervenção de Rodolfo Bernadelli para dar um ar eclético, a fachada principal inspirada na Renascença Francesa com frontões, colunatas e relevos em terracota identificando as grandes civilizações da antiguidade. Laterais simples nos remetendo a renascença italiana e fachada posterior Neoclássica. O interior do prédio é rico em materiais como mármores, cristais e estátuas. As obras expostas tem importância histórica como pinturas de Debret e Victor Meireilles (Primeira Missa no Brasil), Eliseu Visconti (Gionetu), Frans Post, Portinari (Café), Tarsila Do Amaral, Pedro Américo (Batalha do Avaí) e Di Cavalcanti.

www.mnba.gov.br

Teatro Municipal - outra pérola da Cinelândia, o teatro é referência de arte clássica e foi inaugurado em 1909 sua arquitetura foi inspirada na Ópera de Paris e é quase unanime que a cópia brasileira é muito mais bonita que o original francês, o desenho arquitetônico foi fruto da junção de dois projetos, artistas de renome foram chamados para o estilo interior ao prédio, com isso podemos ver lindos afrescos de Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e os irmãos Bernardelli. Além de artesãos europeus que viriam a fazer os vitrais e mosaicos.

http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/

Biblioteca Nacional - a sétima maior biblioteca do mundo, é a depositária do patrimônio documental e bibliográfico do Brasil. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, houve o translado de um dos maiores tesouros portugueses, a Biblioteca Real. Com a independência do Brasil esse acervo português ficou entre os pontos pendentes do Acordo de Amizade entre Brasil e Portugal, até que em 1825 o Império brasileiro comprou as obras de Portugal por um valor nada simbólico (e ali nascia parte da nossa dívida externa). Em 1910 o prédio atual ficou pronto para abrigar esse importante acervo. O projeto é de Souza Aguiar em estilo eclético com traços de art nouveau, os artistas que compuseram os ornamentos são praticamente os mesmos do teatro municipal.


http://www.bn.br/portal/
 

Além das grandes jóias da Cinelândia, o Palácio Pedro Ernesto que abriga a câmara dos vereadores do Rio, o Bar Amarelinho (que segundo a lenda urbana abriga os restos mortais de D. Maria I, rainha de Portugal), o Passeio Público (primeiro do país) e o Centro Cultural da Justiça Federal compõem um giro de 360 graus na praça, que do nome de Cine, só o Odeon permanece.

Seguindo pelo Largo da Carioca temos no alto o Mosteiro de Santo Antônio com um acervo de arte sacra belíssimo, o prédio nos dá a noção das mudanças urbanísticas ocorridas na cidade, seguindo em direção a Rua Gonçalves Dias vemos um ponto de encontro da elite intelectual do país, a confeitaria Colombo, com um belo salão de espelhos, a poucos metros dali na rua Uruguaiana a Casa Cavé, em estilo francês também foi outro ponto de reunião social no início do século passado. 


 Respire fundo os ares do passado, e siga mais alguns passos da Uruguaiana para a praça Tiradentes (se for pela Rua da Carioca tem muita história por ali com o Bar Luiz, Cine Iris e Cine Ideal, todos muito afastados de um passado de glória!), chegamos então na ..

Praça Tiradentes - o antigo descampado, que abrigou tendas ciganas no século XVII, começou a ganhar brilho quando em 1769 com a construção a Igreja de Nossa Senhora da Lampadócia uma igreja pobre, pequena e construída por escravos, o lugar então continuava como uma espécie de sítio dos pobres até que no fim no século XVIII foi erguido um palacete pelo presidente do senado da época, o Solar Visconde do Rio Seco, está atualmente em reformas e será um animado centro de cultura. Foi em frente a Lampadócia que Tiradentes fez suas últimas preces no seu cortejo para a morte, o enforcamento verdadeiramente não se deu na praça mas perto dela.

Em 1808 um pelourinho foi montado no local, mas porque exatamente num lugar com raízes pobres, com o nome de praça Tiradentes tem uma belíssima estátua equestre de D. Pedro I ?  Em 1821, ainda como Príncipe Regente e num período conturbado para seu pai em Portugal, o príncipe teve que jurar fidelidade a constituição portuguesa que estava em elaboração, isso acalmaria os ânimos na corte, e o príncipe fez isso publicamente num discurso da janela do Teatro São João (hoje onde está localizado o Teatro João Caetano). Daí a praça ganhar o nome de Praça da Constituição por um período e o motivo maior da estátua em seu centro! Compõe o cenário outras belíssimas estátuas a Justiça, a Liberdade, a União e a Fidelidade. Perto da Igreja
da Lampadócia, chegamos então ao magnífico ...

Real Gabinete Português de Leitura
- o nome da rua onde se localiza é perfeito e proposital, Luiz de Camões. Foi fundada em 1837 por imigrantes que vieram com a corte em 1808. O prédio é lindíssimo e foi projetado por um arquiteto português chamado Rafael da Silva e Castro, em 1880 D. Pedro II colocou a pedra fundamental e em 1887, sua filha Isabel inaugurou a obra. O estilo arquitetônico nos remete ao gótico-renascentismo vigente na época dos grandes descobrimentos e por isso é chamado de estilo Neo manuelino (de Dom Manuel, o venturoso, lembrou do livro de história da 5a série?). Com uma fachada esculpida em Lisboa e trazida de navio, a pedra Lioz representa com suas estátuas as figuras de Pedro Álvares Cabral, Camões, o infante Dom Henrique e o VICE-rei Vasco da Gama. Tudo muito bonito e histórico, então respire fundo, feche os olhos e entre.... quando abrir os olhos o mundo parece que deu uma volta completa em menos de 24 horas!  O cenário é de uma linda estante em madeira, um candelabro e clarabóia em ferro, é a maior coleção de obras portuguesas fora de Portugal, detém obras raríssimas como uma edição princeps de Os Lusíadas e as Ordenações de Dom Manuel, quando foi aberto ao público era comum esbarrar por ali com Machado, Bilac e João do Rio, sorte deles !

 
http://www.realgabinete.com.br/ 

 Deu preguiça, pode caminhar mais um pouco em direção a confeitaria Manon, a torrada francesa de lá é sensacional e o ambiente não deixa de ser ... histórico

 Se tiver disposição não deixe de pegar o metro até o Palácio do Catete ou aproveitar a noitada  na Lapa para uma noite dos malandros ou um concerto na Sala Cecília Meireles, mas isso ... é uma outra história!

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