Nesse ponto aprofundamos mais algumas dicas importantes pra conhecer o Peru, se não leu o primeiro texto do Peru pode ser legal voltar e ler https://encontrandonocaminho.blogspot.com/2024/09/peru-historia-beleza-e-desafio.html
O Peru é um país gigante, com uma história riquíssima e uma cultura diversa, possui cerca de 38 micro climas, com isso produz alimentos diversos, que combinados geram uma das melhores e mais diversificadas culinárias do mundo. Só isso aumenta em muito o leque do que se há de fazer por lá ....
Mas o Peru não é para fracos, ainda carece de uma boa infra estrutura, invariavelmente você passará pelo altiplano, e a altitude requer um esforço extra do corpo humano, numa adaptação que requer 3 semanas. Então perde-se muito tempo e para viver o lugar é preciso se desligar por completo, a não ser que sua viagem seja para tirar umas fotos, dizer que esteve lá e pronto.
Para vencer isso tudo é preciso estudar, planejar e ter uma boa estratégia, ah! Se tudo isso der errado por um mal súbito, ou uma diarreia no hotel, é bom ter um plano B e quem sabe um plano C.
Vamos a um passo a passo baseado na minha viagem, que foi trabalhosa mas finalizou com sucesso.
1- Estratégia
Você pode querer surfar no litoral, comer nos melhores restaurantes de Lima, ir pra Machu Picchu, descer um rio na região amazônica peruana, atravessar o lago Titicaca, sobrevoar o deserto de Nazca, visitar museus e sítios arqueológicos para conhecer as culturas pré incaicas ou pré colombianas. Toda a estratégia vai se basear no que você pretende conhecer. Minha sugestão é um mistão disso tudo. Não se pode perder a importância da capital Lima usando-a só como uma ponte para outros lugares, Cusco foi a capital das Américas no período pré colombiano e depois dele, Machu Picchu, além de intrigante é um Patrimônio Mundial da Humanidade.... a partir dessa tríade vamos fazendo algumas variações para montar uma estratégia.
3 dias em Lima são o suficiente para conhecer bem a cidade, por segurança colocar 4 seria ideal para visitar alguns sítios fora da cidade.
3 dias para ir a Puno, Arequipa ou Nazca, lembrando que a partir daí estaremos no altiplano e que o corpo pode precisar de tempo para se adaptar (falaremos disso mais tarde). Essa é a parte descartável da viagem para quem quer menor esforço.
De 3 a 5 dias em Cusco (para ir na Laguna Humantay e Montanha Colorida ou fazer a trilha Inca, se você tiver disposição).
1 dia em Ollantaytambo
1 dia em Aguas Calientes
1 dia para Machu Picchu
Mais 1 dia em Cusco e voltar por lá mesmo.
Planeje toda a viagem a partir do dia em que conseguir marcar Machu Picchu, esse é o ponto alto e imperdível e planejar tudo para que nada falhe nesse dia é importante.
2- Transportes
Em geral os voos sempre vão parar em Lima, se está na capital, porque não usufruir dela logo na chegada quando seu espanhol está esquentando para as dificuldades futuras ? Na volta não é oportuna uma parada na cidade, pensando num ápice da viagem em Machu Picchu.
O voos são seguros, porém ao sair de Cusco é bom ter a mesma Cia aérea da conexão de Lima para o Brasil pois qualquer atraso por mal tempo ou trâmite imigratório (coisa bem comum) a Cia aérea vai dar um jeito de te encaixar num outro voo. Cheguei a ver as obras de um aeroporto internacional perto de Ollantaytambo, com certeza vai facilitar as viagens que visam conhecer Macchu Picchu mas deixar de conhecer Cusco ou Lima é uma blasfêmia.
Dentro das cidades o custo de taxi em geral giram em torno de 10 a 20 soles por corrida, o que é bem barato para os padrões brazucas. Vi em vários sites indicação para usar o easy taxi lá pois era uma opção melhor que o Uber, sinceramente não consegui fazer o easy taxi funcionar encontrando transporte e usei o Uber e os taxis locais sem problemas.
Recomendo bastante se for a Puno fazer um passeio de trem para Cusco (caro mas vale a pena). É de trem também a ida para Aguas Calientes, de lá existe um ônibus para o sítio de Machu Picchu e a volta para Cusco também é por trem. Todas essas viagens são caras, mas fundamentais.
Não recomendo de forma alguma alugar carro por lá, o transito é caótico, as estradas perigosas.
3- Itens essenciais para a sua viagem
Quando falei de falta de infra estrutura, isso nem é tanto por incompetência governamental de não ter estradas tão boas (e algumas são excelentes) diante do problema climático global existem regiões do mundo com problemas crônicos de estiagem, a região de Cusco é uma delas, desde o final de 2023 a cidade sobre com a falta d'agua, cheguei a ficar 2 dias sem água na cidade, um deles sem banho... é um ponto de atenção que afeta pouco os franceses, mas para nós brasileiros beira a morte, não conseguir tomar um banho. Isso tudo foi para dizer que o primeiro item essencial da sua lista é o lenço umedecido, não somente para substituir um banho mas porque os banheiros lá (sejam onde for) não costumam ter papel higiênico e pode estar com o agravante de não ter água.
Diante do cenário propenso a contaminação o bom e velho frasquinho de álcool gel pode ser fundamental.
Fora isso, prepare uma mala grande porque a temperatura varia bastante ao longo do dia, em setembro, não cheguei a pegar chuva, mas é comum noites de cerca de 4º e dias ensolarados na montanha chegando aos 21º. Ah ! A proximidade com o sol lá em cima da montanha vão fazer você precisar de um boné e um bom protetor solar e labial. Lembrando que sou carioca e estou acostumado com o sol mas o nível do mar e a maresia atenuam as coisas, por lá não é tão fácil ....
Sobre remédios eu vou falar num outro item mas ainda nas proteções essenciais, um excelente repelente de mosquitos é fundamental em Machu Picchu. Fora isso é bom ter uma bota de trilha, um tênis confortável, não é uma viagem de glamour... é pé na estrada, poeira, enjoos.
4- Dinheiro
Quando eu fui em setembro de 2024 um real (R$) valia cerca de 1,45 Nuevos Soles Peruanos (sol) ou seja a conversão para tudo eu fazia o valor + 50%, por exemplo se algo custa 100 Soles .... seria R$ 100 + 50%, logo R$150,00. 10 soles R$15,00. 70 soles = R$105,00
Esses cartões internacionais funcionam bem lá mas você vai precisar ter moeda na mão (coisa que eu não estava nem mais acostumado a ter). Fazer câmbio no Brasil é muito dificil, logo espere para fazer cambio por lá mesmo (em dólares).
Logo no aeroporto, entre as esteiras de bagagem e a imigração você encontra um caixa automático da GlobalNet (não-recomendado: o limite por saque é baixo, 400 soles, e a tarifa é alta, 14,50 soles) e também o guichê da casa de câmbio, que fica aberto 24 horas.
Mesmo com a comissão de 3% cobrada pela casa de câmbio, é melhor usar os seus serviços. Troque ali 100 dólares, só para ter os primeiros soles no bolso e conseguir pegar um taxi para sair do aeroporto. Depois você terá tempo de ir numa casa de cambio melhor na Av. Pardo em Miraflores ou na Av. Larco (que ficam abertas aos sábados até 14:00). Existem os cambistas autorizados com jaleco, que ficam pela rua em frente ao Parque Kennedy que costumam ter uma cotação melhor que as casas de cambio. É isso mesmo, troca o dinheiro na rua! Eu preferi sempre sacar com o cartão internacional, o Scotiabank tem uma taxa menor num cambio razoável de dolar para soles, mas o melhor é a Caixa Nacional (Banco de la Nacion) que não cobra taxas, por isso é comum ver umas filas na porta, nada impactante!
5- Quanto levar?
Eu sempre parto da premissa, sem maiores erros seja para a Europa ou América do Sul, de um custo diário de US$100 por dia com passeios, comida, compras e alguma eventualidade. Tirando a passagem aérea e a hospedagem (que é barata por lá). O seu orçamento entra muito bem nesse calculo. Eu apertei um pouco para caber em US$80/dia e consegui!
6- Saúde
Sem dúvidas que o maior inimigo do turista no Peru seja a altitude, mas além disso o clima seco por vezes vai deixar os alérgicos com alguns problemas mas nada se compara ao mal da altitude !! O ideal é consultar um médico antes de ir, ter uma preparação física eu diria que seja irrelevante para estar apto a uma altitude de mais de 2.500 metros, o mal da altitude não funciona bem assim, pessoas bem fisicamente podem sofrer enquanto sedentários passam imunes, o que não quer dizer que numa outra viagem isso se mantenha. O desafio da montanha tem muito mais a ver com capacidade pulmonar, hemácias e qualidade delas do que com aptidão física, óbvio que é bom ter disposição para andar, subir escadas, acordar cedo, dormir tarde... quem tem vida ativa passa tranquilo. Como eu sou hipertenso e estava com a pressão descontrolada antes de ir fui cuidadoso com isso, e consultei muito a minha médica antes de ir tendo planos A e B para os remédios, estudando sobre chá locais, a famosa Soroche Pills e até hospitais próximos de onde ia ficar hospedado, quando você esta passando mal não consegue pensar muito e ter isso tudo a mão é fundamental. Obviamente, levei meus remédios de pressão e um outro mais forte que usaria na altitude (mas exatamente ele me causou reações adversas assustadoras). Tive que levar um medidor de pressão e outro item fundamental que estava guardado no armário desde os tempos da COVID, um oximetro ! Oxigenação menor que 70% corra pra um hospital, ou algum suprimento de oxigênio urgente.
Em geral os hotéis tem balões de oxigênio, procure se informar antes de ir.... existem as latinhas de oxigênio que você compra em qualquer farmácia e que quebram um galho. A tal soroche pills nada mais é que um Ácido Acetilsalicílico (AAS) com cafeína. Nada do outro mundo e que muita gente toma indiscriminadamente sem fazer efeito algum, eu não podia por conta da minha pressão e cheguei a ver umas marcas que me dava a sensação de serem placebos. De qualquer forma dá pra sair do Brasil com remédios para dor de cabeça melhores, Doril por exemplo.
Falam muito para mascar folhas de coca, eu já tinha tomado chá de coca em Bogotá e acho que me fez bem, porém no Peru logo peguei a dica com uma senhorinha de Puno (3.500 m), chá de camomila com muña (essa sim uma erva local). Me deu alguns alívios. Passei mal de forma séria só no dia que troquei meu remédio de pressão, de resto umas leves tonturas e um cansaço um pouco maior que o normal, que não me impediram de fazer nada que eu queria.
Dicas para enfrentar a altitude:
- Consultar um médico para fazer um check up antes da viagem e colocar a saúde em dia.
- Subir aos poucos (melhor fazer aclimatação em lugares de 1.500m antes de partir para os 3.400 de Cusco ou 3.800 de Puno) se for possível.
- Beber muita água ... muita mesmo (de 2 a 3 litros) ! Antes de sentir sede...
- Evitar alimentos muito condimentados e gordurosos.
- Evite esforço grande no primeiro dia em altitude elevada.
- Mesmo que já esteja aclimatado diminua o ritmo, aproveite conscientemente cada inspiração e expiração, suba escadas devagar, não dê bobeira na beira de precipícios, caminhe relaxado, intercale dias mais tranquilos com dias cheios e que demandem muito esforço. Evite beber muito álcool.
Desde 2022 o Peru não exige mais vacinação de febre amarela para brasileiros, porém essa resolução da MINSA (o ministério da saúde peruano) pode ser que mude, então é bom consultar antes.
Ah ! Não esqueça de um bom seguro viagem e entenda bem as cláusulas dele antes de ir
7 - Documentos para se entrar no Peru
O Peru não exige visto de brasileiros, no entendo é sempre bom levar o passaporte (principalmente para ser carimbado em Machu Picchu!). Houve um tempo em que turistas precisavam de uma declaração jurada para entrada no país, uma resolução de outubro de 2022 acabou com isso.
8- Comunicações
Habilitei meu chip da Claro com o passaporte Americas, funcionou super bem nas áreas mais remotas, o mesmo acontece com a Vivo, outras operadoras eu não posso dizer, mas em geral a rede de celular é boa.
9- Estratégia da viagem
Além das questões de saúde, esse é um ponto importantíssimo para definirmos o que queremos conhecer. Sou da idéia de elevarmos a viagem de forma gradual, assim o ápice fica sendo Machu Picchu (quando estamos melhor adaptados com a altitude e menos cansados).
De fato, Machu Picchu, a 2.400 metros do nível do mar, é bem menos elevada que Cusco, que está a 3.400 metros. Por isso, o soroche, ou mal de altitude, é menos comum em Machu Picchu do que em Cusco.
Saindo direto do aeroporto de Cusco para Machu Picchu é possível não sentir os efeitos da altitude na chegada, o problema dessa estratégia é que ela apenas adia o mal-estar para quando você vier de Machu Picchu para Cusco, e do ponto de vista da viagem gradual é como começar o jantar pela sobremesa.
10- Furadas
Ao mesmo tempo que existem paisagens maravilhosas, coisas interessantíssimas, museus, restaurante fabulosos, o Peru guarda como todos os países, lugares que são furada certa e recantos pega turista. Deixei de ir a alguns pois entendia que seria longe, contra mão em lugares completamente inóspitos para ver uma pedra que em algum momento da história serviu de tampa de um templo sagrado que não está mais em pé.
A região de Puno é muito pobre, o caminho por terra indo em direção a Bolívia é recheado de sítios arqueológicos interessantíssimos, porém tem um tal de templo da fertilidade que é formado por pedras em formato fálico e que sinceramente é muito esforço pra pouco resultado, se quiser ver coisas assim, existem sexy shops nas cidade maiores.
A Laguna Humantay é deslumbrante mas fazem os pulmões trabalharem em dobro, as condições climáticas podem mudar repentinamente e pode ser até que o passeio seja cancelado no meio. Existem Lagunas tão belas quanto a Humantay e que são menos badaladas.
Montanha das 7 cores, é um passeio relativamente novo porque a montanha é nova ! Peraí que eu explico, a montanha com certeza já está lá há um bom tempo mas o degelo recente dela é um evento causado pelo aquecimento global, ou seja pra começar é um espetáculo causado por um triste evento. É legal ver no youtube alguns vídeos de furadas nessa montanha, também exige um esforço com alguns riscos e muitas vezes o tempo está fechado ao chegarmos lá. Existem montanhas similares na Bolívia e no norte da Argentina (Jujuy).
11 - Contratar ou não um guia
Eu sempre opto por estudar minimamente todos os lugares que pretendo ir, uma viagem ao Peru requer muitos estudos devido a riqueza de sua história, e aí podem contabilizar algumas noites de sono. Se muitos livros de história, ou guias turísticos divergem de muita coisa, imagine um guia local que sempre tem uma tendência a fantasiar as coisas ? Lendo e estudando as coisas já notei muita história contada errada pelos guias turísticos. Aí vem outro ponto que detesto, excursões com guias das empresas, pode ser chatice da minha parte mas sempre prefiro os guias autônomos locais, eles costumam ter uma visão de um morador local, dar dicas de coisas mais baratas e sem aquela visão pega turista. No Peru é bem comum encontrar guias locais na entrada as atrações, logo você não precisa ficar preso a um único guia o tempo inteiro e nem precisa dos mínimos detalhes das explicações a cada monumento. Eu sugiro uma visita com calma e um guia na Catedral de Lima, o Huaca Pucllana já é obrigatoriamente uma visita guiada, no Qoricancha e Sacsayhuamán em Cusco e em Machu Picchu. Eu já sabia praticamente tudo que os guias foram falando em todos esses lugares, mas foi ótimo confirmar algumas coisas a partir da opinião de pessoas simples e locais. O respeito pelo trabalho dos guias e a interação com eles pode ser uma experiência muito rica.
12- O que estudar pra não chegar de bobo no Peru
Conhecer minimamente as história dos lugares é fundamental, no Peru é bom dar uma lida rápida sobre a geografia, o mais alto lago do mundo e um país que vai do clima desértico a uma floresta equatorial e a umas das das maiores cordilheiras do mundo e que tem diversos microclimas merece um tempinho de estudo.
É comum as pessoas simplificarem o estudo da história do Peru ao período dos Incas, realmente a sua cultura é um estudo fascinante mas você vai notar que a cultura Inca ainda esta presente em cada esquina, existem diversas culturas pré incaicas tão interessantes quanto! É bom ler sobre as lendas Incas como a da Viracocha e o modelo político administrativo que usavam, entender sobre o Sapa Inca, sobre a festa do sol, sobre a cultura pré incaica dos Nazca, Paracas, Chimu, Chavin. Entender como era feita a produção de alimentos e a distribuição do mesmos. Depois é hora de entender como Pizarro subjugou o império que enfrentava uma guerra civil e como a Espanha colonizou extraindo ferro e prata mas principalmente adaptando a fortíssima cultura local para fazer nascer ali uma nova civilização. Depois é importante ler sobre Tupac Amaru e sua revolta que influenciou outras tantas revoluções pelo mundo afora (da Inconfidência Mineira até os Tupamaros da década de 70 no Uruguai), por fim entender a conturbada política peruana no século XX com olhos para o grupo terrorista Sendero Luminoso. Viver a viagem antes de ir e reviver quando voltar cheios de histórias e lembranças vai com certeza enriquecer sua vida !